quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Matéria

JORGE TUFIC, OITENTANOS. - Jornal O Estado

Exato nesta sexta-feira, 13, a cidade de Sena Madureira, lá no longínquo Estado do Acre, símbolo da tenacidade de cearenses, sulamericanos e de fenícios que por lá aportaram, nascia há oitenta anos, um menino chamado de Jorge Tufic, aquele que seria o maior poeta da região norte, um rio pleno de sonetos, a jusante e à montante que se fez pororoca, turbilhão e deu com os pés molhados nas águas rionegrinas/manauaras para ali estudar, fincar raízes e, em seguida, receber louros como “O Poeta do Ano”, em 1976, com o veredicto do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Amazonas.

E como “estas rosas que alteram nosso dia/e abrem na tarde a súplica dos dedos/ que se libertam, pássaros, no barro/ E tocam, com sua forma torturada, a flor do azul contida e descontida/neste adágio de pedra e de luar”. E o luar da Academia Amazonense de Letras fez-se clarão para festejar o ingresso de Jorge Tufic em seus quadros. Honrado e glorificado que já era como poeta, jornalista e representante da União Brasileira de Escritores na Amazônia, a região que lhe inoculou o jambo da sua tez e o coração de menino inquieto quando via que “um tear e uma aranha/ponteiam o meu destino/quando o tear se esgota,/a aranha pega o fio/e sobe”.

E Tufic ascendeu e mereceu ter seus poemas festejados na antologia “A Nova Poesia Brasileira”, coordenada pelo piauiense Alberto da Costa e Silva, da Academia Brasileira de Letras. Enciumado, Walmir Ayala, veio de seus pagos gaúchos, em 1965, para apenas mudar o título da antologia e entronizar Jorge Tufic no panteão da “Novíssima Poesia Brasileira”. O poeta, hoje acreano-amazonense-cearense se declara “habitante da noite, volta e meia/danço e cavalgo estranhas partituras/onde a poesia? Látego e correia/a suíte é rosa, música e nervuras/ A lua imensa bebe, nas alturas/ todo o clarão que sobe dos teus dedos/ o mar se expande em conchas e lacunas/solos e flautas contam seus segredos”.

Pelos desígnios insondáveis dos deuses das águas, Jorge Tufic apaixonou-se pela Praia de Iracema e aqui fundeou suas estrofes. Foi lá que o conheci há décadas. Nós, os da terra, desconfiados, pedimos que alguém sem jaça, com raça, talento e graça o avalizasse. E eis que o poeta Francisco Carvalho, do seu exílio familiar na Francisco Lorda, atestou, deu fé e tornou público que ele era “Mestre incontestável do soneto, essa teia mágica que ainda intriga os pretendentes de Penépole, Tufic passa incólume pelas ‘perpétuas grades’(Augusto dos Anjos) dessa autêntica jaula medieval, com certeza uma das mais polêmicas de todas as modalidades de poemas já concebidos pela fantasia”.

Com esse aval crítico-poético de Carvalho as comportas das reservas dos letrados locais foram abertas, título de cidadania recebeu e, hoje, todos nós, menores que ele, o reverenciamos com a alegria dita por Madame de Staël em De l’Allemagne, “La poésie est le language naturel de tous les cultes”. Jorge Tufic, és culto, és poeta.

João Soares Neto,

escritor


CRÔNICA PUBLICADA NO JORNAL O ESTADO EM 8/13/2010.

JOÃO SOARES NETO
CRONISTA

Minha própria homenagem

MEUS 80 ANOS


Há dias, fui surpreendido com um convite do poeta José Telles para ser homenageado no Ideal Clube de Fortaleza, tendo em vista a data de 13 de agosto, quando deveria comemorar os meus oitenta anos de idade. Pensei, então, que fosse uma simples cortesia da Sexta Literária que ocorre todas as semanas no Clube, e não a festa de onde venho, hoje, carregado de tantos presentes que me foram entregues pelos nobres amigos e escritores Lustosa da Costa, Juarez Leitão, João Soares Neto, Régis Frota e tantos outros. Tudo começa pelo Menu à Jorge Tufic,
com belíssimo prefácio de José Telles, Entrada, Guarnição, Prato principal e Sobremesa. Em seguida, ao calor do afeto de João Soares Neto, recebo exemplares do jornal O Estado, e, vejam só! com artigo de rodapé assinado pelo próprio JSN, sob o título JORGE TUFIC, OITENTANOS. E os telefonemas não param: Ministro Ubiratan Aguiar, Lucio Alcântara, Robério Braga, entre muitos outros, inclusive esta CANÇÃO PARA UM RAPAZ DE OITENTA, do grande poeta continental Francisco Carvalho! Oxalá possa, e vou tentar, fazer o envio de toda essa fortuna sentimental e literária aos meus confrades do Brasil e do Exterior.
Ressaltem-se, ainda, o pôster intitulado Vate Fenício, aliás pastor de ovelhas, de Luciano Maia, e a presença de inúmeras autoridades. Horas após este evento, o Chá do Armando, em Manaus, também se reunia com este mesmo propósito, e eu estive ali, numa viagem espiritual sem precedentes, juntando-me aos queridos Armando Andrade de Menezes, Almir Diniz, Zemaria Pinto, Tenório Teles, Banayas, Simão Pessoa, Sérgio Luiz Pereira, Luiz Bacellar, e tantos outros.
Afinal, aqui registro mais um fato inusitado que, de tempos em tempos, acontece em nossas vidas: trata-se da surpresa que nos colhe, assim de repente, e acaba por mudar os nossos hábitos, mas não para sempre. A partir dos noventa os ciclos etários ficam mais na expectativa da morte, e vão, assim, reduzindo as despesas com a festa dos parabéns.
Obrigado, amigos!

Obras avulsas

AOS CONFRADES E AMIGOS DO CHÁ DO ARMANDO

Ao Chá do Armando a taça que faltara
quando, sem mim, quiseram-me presente;
e aos oitenta que sou, alegremente,
um dia a mais tão logo acrescentara.

Laços comuns, saudades, uma rara
força nos une transcendentalmente;
pois, sendo longe, o perto se consente
anular a distância que separa.

Fica-me bem ser lágrimas e rosas.
Mas como agradecer aos meus amigos
pelos brindes, com rimas fastidiosas?

Contudo, a gratidão me transfigura.
Sou-lhes grato, meus últimos abrigos,
companheiros da luz em noite escura.

Jorge Tufic

Homenagem

Canção para um rapaz de oitenta

Poeta Jorge Tufic,
pastor dos meridianos,
ergo a taça dos meus versos
pelos teus oitenta anos.

A vida passa depressa,
passam meses, passam anos.
Passa o vento nas janelas
pelos teus oitenta anos.

Pelas portas das esferas
passam vinhos lusitanos,
passa o verso pela ode
pelos teus oitenta anos.

Passa a chuva pelo vidro,
passam as águas pelos canos.
Passa a onda pela espuma
pelos teus oitenta anos.

Passa a rima pelo remo,
o engano por desenganos.
Cantam vinhos nas garrafas
pelos teus oitenta anos.

Francisco Carvalho